Cherini
 
Especial - Posse como Presidente da Assembleia Legislativa
 

Discurso de Pose do Deputado Giovani Cherini

 

Mahatma Gandhi me ensinou que: "Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova."

Nesta sessão inaugural, é imprescindível reafirmar o valor histórico desta Casa Legislativa. Por aqui transitaram figuras ilustres de nossa história – Bento Gonçalves, João Neves da Fontoura, Gaspar Silveira Martins, João Goulart, Raul Pilla, Leonel Brizola, Mauricio Cardoso, Batista Luzardo, Fernando Ferrari, homens que se destacaram pela ousadia e coragem na defesa de seus ideais, alguns superando as nossas fronteiras, como foi o caso do saudoso presidente Getúlio Vargas.

É uma honra e uma responsabilidade, portanto, assumir este compromisso histórico.

Há quinze anos, nesta Casa, vivi a experiência mais importante de minha vida no campo político - a de assumir o mandato de deputado estadual. LEGISLAR é uma das funções mais sagradas que um ser humano pode exercitar, cuja responsabilidade pelo correto desempenho nos será cobrada, de uma forma ou de outra, pelos homens, por Deus ou, ainda, pelo imperturbável JUIZ INVISÍVEL: a CONSCIÊNCIA!

Hoje vivo uma experiência semelhante, porém, indescritível sob o ponto de vista emocional. Assumir a Presidência da Assembleia Legislativa gaúcha é, simbolicamente falando, colocar a "cereja" neste Bolo de Emoções, que tem sido minha existência. É o luzir mais intenso da pérola que carrego comigo, desde a tenra idade, que eu chamo de SONHO.

Porém, permitam-me que antes do Presidente, fale aqui o cidadão que fez do seu SONHO de infância, uma REALIDADE, como tantos aqui presentes.

Pertenço a uma geração que cresceu embalada pelo arado de bois e pela enxada nas lavouras do interior de Soledade, onde nasci. E trago na pele o mormaço dos dias, o sol do trabalho digno daquele tempo. As marcas deixadas pelo labor duro na agricultura, são os primeiros tijolinhos que a vida colocou para a realização futura dos meus ideais.

Por isso, vos afirmo: vem de longe, de muito longe, a chama luminescente que sempre aqueceu e manteve o que sempre idealizei para mim.

Ela nasceu das minhas dificuldades, mais especificamente, da precária situação econômica, da quase total falta de recursos para a minha sobrevivência, de meus pais e demais familiares, naqueles idos tempos. Aos 12 anos vendia leite de casa em casa e vasos de nó de pinho na beira da BR 386, para conseguir cursar o ginásio.  Eu me dividia da manhã à noite, entre a roça e a periferia de Soledade, em um bairro conhecido como Fundo Quente, hoje comunidade Bom Jesus, Botucaraí.

Ao terminar o ensino técnico, fui trabalhar como motorista de caminhão, o sonho que o presidente Lula não conseguiu realizar! Eu tinha lido que o cantor Elvis Preslei havia sido caminhoneiro antes de se tornar o rei do rock, o senhor dos palcos. Bem, eu pensava que também poderia ser rei de alguma coisa! E ser caminhoneiro, para mim, era sinônimo de liberdade. Então meu pai comprou um Mercedes 1113 e com ele rodei o Brasil.

E a chama das esperanças e expectativas do meu pai em relação ao que planejava e desejava para mim, queimava sempre.

Ele sempre estimulou e alimentou o meu SONHO, e lembro-me quando, certa vez, na lavoura, parou o cavalo baio na capinadeira e com o rosto perolado de suor, os olhos refletindo a luz do sol, me disse emocionado: - VAI MEU FILHO, FAZ AÍ UM DISCURSO QUE NEM O BRIZOLA!

Eu respondi: tudo bem pai, até posso tentar um discurso, mas quem é que vai me ouvir?

-Eu, meu filho, respondeu meu pai, com os olhos marejados de lágrimas... Eu e estes pés de milho vamos te aplaudir de pé!

Assim, MEUS IRMÃOS, senhores, senhoras e demais presentes, tomado pela CONFIANÇA insuflada por meu pai, passei a SONHAR DE VERDADE, ou melhor, a escrever, a ensaiar e a realizar finalmente o roteiro do filme da minha existência...

O menino pobre que dividia o seu tempo entre o arado e os bancos escolares, partiu para o mundo, concluiu o técnico agrícola, graduou-se e pós-graduou-se em cooperativismo, estudou e residiu em Israel e França, por duas vezes foi recebido pelo Papa em Roma, cumpre o quarto mandato parlamentar e assume neste momento a presidência da Assembleia Legislativa.

Em 1994, me elegi com 18.975 votos. Em 1998, com 38.691 votos. Em 2002, 55.185 votos e em 2006 alcancei o atual mandato com 64.523 votos, a maior votação obtida por um deputado estadual do meu partido, o PDT.

Sou, também, um deputado cooperativista. Professor universitário em cursos de graduação e pós-graduação em cooperativismo. Sou educador cooperativista por profissão e sócio das cooperativas COTRIJAL, COAGRISOL, COPREL, SICREDI e COOPLANTIO. Lidero a Frente Parlamentar de Apoio ao Cooperativismo e através dela, apresentamos e aprovamos a primeira lei cooperativista de âmbito estadual, sempre atuando em consonância com a nossa Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul - OCERGS. Outra iniciativa que muito me orgulha é a Cooperativa Universidade de Líderes Juventude Sem Fronteiras, dirigida aos jovens para a formação de lideranças, projeto pioneiro no Brasil.

A Universidade de Líderes é a minha contribuição, como político, para que possamos revelar novas consciências. Posso dizer com orgulho que duas mil quinhentas e sessenta e sete pessoas mudaram de vida através deste projeto inovador e voluntário.

Posso afirmar que milhares de pessoas, homens e mulheres, também estão mudando as suas consciências a partir de uma nova visão e atuação integrativa.

Todos aqui presentes sabem que a minha atuação política, ao longo destes 15 anos ininterruptos nesta Casa, têm sido marcados pela pluralidade das ações. Uma dessas ferramentas foi a Programação Neurolingüística, que otimiza os recursos do cérebro e se traduz em atitudes e mudanças de comportamento, como a melhoria da comunicação interpessoal, a capacidade de gerir melhor o tempo, o equilíbrio emocional, o aumento da percepção da realidade, acrescido de uma visão solidária e holística. Por isso me defino como um deputado holístico, buscando a integração total do ser através da harmonização e equilíbrio.

O holismo, meus senhores e senhoras aqui presentes, traz para nós uma proposta de atuação integral, de percepção integral da realidade. Dentro dessa diferenciada visão, se o Governo, a sociedade, ou o Estado, não vão bem, eu, na qualidade de cidadão, também não estarei bem. Assim é com tudo: com minha família, meu vizinho, meu adversário, ou com o Planeta inteiro, eis que, estamos todos interligados, e esta lei é universal e irrevogável.

Por isso dedico-me a desenvolver uma prática política integrativa no campo da educação, solidariedade, liderança, coerência e como legislador.

Em que pese ainda a atividade política, tive participação em Comissões, debates sobre Projetos e o dia-a-dia da Assembléia, tudo realizado com afinco e entusiasmo. Presidi as Comissões de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo; a de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia; a de Assuntos Municipais e a de Ética Parlamentar. Com muita honra fui líder da minha bancada.

Agora, devo-lhes uma confissão: minha atuação na área social é que sempre deu um real sentido ao meu mandato.

E, mais uma vez, foi meu pai quem me ensinou esta lição: trabalhar sempre em prol do próximo. Durante certo tempo, possuiu um caminhão. Com ele, fazia mudanças, carregava pessoas para velórios, doentes para hospitais, vizinhos necessitando de carona etc. Seu LEMA era: fazer sempre o bem sem olhar a quem.

Em 1985, ainda jovem, tive que dormir 19 noites num banco do Hospital São Vicente de Paulo, na cidade de Passo Fundo, esperando noticias médicas de minha mãe, NOÊMIA CHERINI. Foi quando, jogado num corredor de hospital, fiz uma promessa: prometi a mim mesmo que lutaria muito, incessantemente, para que, um dia, tivesse condições de ajudar as pessoas sem recursos para que não passassem o que passei naqueles momentos tormentosos em que perdi a minha mãe.

Quando presidi o Sindicato dos Trabalhadores de Soledade, de 1987 a 1993, ajudei na transformação do meio rural, levando assistência médica e odontológica ao trabalhador e a trabalhadora rural e trabalhando pela aposentadoria da mulher aos 55 anos e do homem aos 60. Tive o privilégio de pagar a primeira aposentadoria.

Ao assumir o mandato parlamentar, idealizei e abri a Casa Solidária de Porto Alegre. Em seguida vieram as Casas Solidárias de Passo Fundo e Santa Maria, sempre seguindo o lema do meu pai: fazer o bem sem olhar a quem, e tendo como missão sagrada abrigar doentes e seus familiares em tratamento de saúde fora do seu domicilio, sem quaisquer preconceitos ou discriminações de raça, credo, cor, etc.

Por 15 anos atendemos crianças, adolescentes e adultos acometidos de doenças graves, principalmente câncer. Os usuários eram do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás, Minas Gerais, Bahia e países como Paraguai, Argentina e Bolívia.

Sendo tais Casas mantidas pela Instituição de Serviços Solidários, uma Associação Civil de Direito Privado, de caráter social e filantrópico, sem fins lucrativos, e também por colaboradores dos mais diversos locais do Estado e do Brasil, fui surpreendido, no dia 5 de dezembro de 2006, com a cassação do meu mandato, acusado de captação de votos e abuso do poder econômico decorrente da existência dessas Casas Solidárias.

Ali iniciava o meu calvário, que comprometeu praticamente todo este mandato.

Foram mais de dois anos de tensão e amargura. DOIS ANOS E ONZE MESES DE SOFRIMENTO, DÚVIDAS E INCERTEZAS!

Finalmente, no dia 18 de agosto de 2009, o pleno do Tribunal Superior Eleitoral absolveu-me da acusação iniciada pelo Ministério Público Eleitoral do Rio Grande do Sul, reconhecendo que as Casas Solidárias, atendendo gratuitamente pessoas carentes e seus familiares, que buscavam atendimento de saúde em Porto Alegre, Passo Fundo e Santa Maria, não serviam de meio para captar votos. O relator, Ministro Marcelo Ribeiro me absolveu das duas acusações.

A minha defesa estava a cargo do competente ex-ministro do TSE, advogado José Eduardo Rangel de Alckmin. Alckmin sustentou que os albergues existem no Estado há mais de 25 anos e que em 1998 o então deputado estadual João Osório foi absolvido por unanimidade pelo TRE gaúcho.

Muito obrigado Dr. Alckmin! Agradeço, também, em nome dos demais deputados gaúchos que tiveram a honra de serem defendidos pelo senhor na questão dos albergues.

Infelizmente, meu coração voltou a partir-se novamente com a decisão que fui obrigado a tomar no último dia 31 de dezembro: tive que anunciar ao Rio Grande o fechamento da Instituição de Serviços Solidários. A lei federal 12.034, de 29 de setembro de 2009, publicada após o julgamento dos “albergueiros” pelo Tribunal Superior Eleitoral e que alterou legislações anteriores que regulavam o assunto, diz em seu parágrafo 11º : “nos anos eleitorais, os programas sociais de que trata o parágrafo 10º não poderão ser executados por entidade nominalmente vinculada a candidato ou por esse mantida”. A pena para o descumprimento da legislação é a cassação do registro ou do diploma.

Em palavras simples: o atendimento aos doentes e seus familiares foi cancelado pela ação equivocada e danosa do Ministério Público Eleitoral. Na eleição passada a legislação não estava clara sobre a possibilidade desse trabalho social. Mas agora, com a alteração da lei após os julgamentos, não é mais permitido esse atendimento em ano eleitoral.

Vamos cumprir a lei, mas com o doloroso sentimento de estar descumprindo um preceito fundamental que é a solidariedade. A solidariedade é um dom Divino, e graças a esta, que esta unindo os povos para ajudar o Haiti.

Devo-lhes dizer, pois, neste momento, que me sinto podado nos meus ideais, limitado nas minhas funções, obrigado a distanciar-me da verdadeira sociedade solidária. Tenho a terra, e me falta o arado; tenho a pauta musical, e me falta o violino; possuo excelentes asas para voar, mas tiraram-me o céu azul!

A política a ser praticada deve contribuir sempre para a felicidade das pessoas. Há hoje em dia uma grande falta de amor. De compreensão. De solidariedade. Não nos colocamos nunca no lugar dos que sofrem, dos que têm pouco, por isso não compreendemos as suas dificuldades e suas dores.

Política integrativa, no meu entender, é isso: FAZER COM QUE O CIDADÃO TENHA ATENDIDO OS SEUS DIREITOS. COMEÇANDO PELOS MÍNIMOS.

Como legislador apresentei cerca de 680 Projetos de Lei nas mais diversas áreas. Sou autor de 101 leis, sendo que muitas acabaram sendo reapresentadas por outros Estados, como a Lei do amianto, a lei do livro, lei do cooperativismo, Lei da Educação Ambiental, Lei das Sacolas Plásticas, Lei do monitoramento, que tive o prazer de construir com o Governo, entre outras.

Faço uma referência a Governadora Yeda Crusius pela decisão de implantar o monitoramento eletrônico de apenados dos regimes semi-aberto e aberto no Rio Grande do Sul.

Nestes 15 anos de trabalho e dedicação ao mandato parlamentar divisava o dia em que objetivos, trabalho e cooperação - cooperação, trabalho e objetivos, se encontrassem, juntos, na minha vida.

Eu nunca duvidei que esse dia chegasse. E ele chegou.

Sem arrogância, com humildade, mas, sobretudo, com absoluta convicção, eu digo a vocês todos: sempre imaginei que, quando ele chegasse, me encontraria na posição que assumo hoje, escolhido pelos meus colegas deputados e deputadas para presidir a nobre Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, para conduzir a caminhada desta Casa rumo a um novo momento político.

Minha eleição é fruto de um acordo construído inicialmente pelas quatro maiores bancadas. PP, PMDB, PT e PDT. Acordo esse que trouxe a força das demais bancadas fazendo uma Mesa pluripartidária, que nos dois últimos anos foi dirigida de forma compartilhada por PT e PDT. Por isso nesse momento agradeço aos presidentes Frederico Antunes e Alceu Moreira, e em especial nesse ao presidente Ivar Pavan, que fez jus ao compromisso assumido no início de 2009, construindo uma legislatura plural e séria.

Assumo a presidência da Assembleia, cujo ano legislativo de 2010 começa sob o signo de um novo tempo, aquele que assinala o encontro do Rio Grande do Sul e do Brasil com eleições para Governos dos Estados e Assembleias Legislativas, para a Câmara Federal e para a renovação de 2/3 do Senado e a eleição para a Presidência da República.

É tempo também de afirmar que, neste processo eleitoral, a ocorrer em alguns meses, o Rio Grande do Sul não pode ser figurante nem coadjuvante. Queremos e precisamos ser, além de autores, também os protagonistas deste momento histórico.

Autoridades presentes, Nobres Colegas de Parlamento, Meus Irmãos, Caros Convidados:

De frente para o futuro, precisamos projetar agora um novo e importante caminho para consolidar a grande vocação deste Parlamento como centro de convergência dos debates sociais, em todas as suas manifestações.

Dentro da organização do Estado, o Legislativo é, sem dúvida, o que tem mais vocação para ocupar este novo espaço da Democracia Participativa e Cidadã, trazendo para seu âmbito os grandes debates de interesse público.

Sem dúvida, o fortalecimento do Poder Legislativo exige um maior e cada vez mais extenso conhecimento pela sociedade de suas atribuições, atividades e realizações.

É um desafio que assumimos, desmistificar a atuação parlamentar, que em alguns casos é julgada pelo número de deputados presentes em plenário, quando, sabidamente, muitos deles estão trabalhando nas Comissões Permanentes ou participando de audiências públicas ou, ainda, visitando locais de tragédias, como as que têm acontecido recentemente em nosso Estado. Impressiona-me o dinamismo e a capacidade de articulação e de trabalho de cada membro deste Parlamento. Sem exceções. 

A grande força do Poder Legislativo reside, sobretudo, em sua composição multipartidária, refletindo, na sua pluralidade, a capacidade de intermediar e encaminhar conflitos e contradições latentes na sociedade aqui representada.

É nesse sentido maior que expressamos nosso reconhecimento a todos os partidos que têm assento nesta Casa, às suas lideranças e aos seus parlamentares.

E quero aqui fazer uma referência ao meu partido, o PDT, em especial ao seu presidente estadual, Romildo Bolzan Junior, ao Presidente Nacional licenciado, Ministro do Trabalho, Carlos Lupi, ao deputado Vieira da Cunha, presidente nacional em exercício do PDT, ao ex-governador, Alceu de Deus Collares, autor de um poema que diz: o voto é tua única arma. Põe o teu voto na mão. Sem dúvida, um apelo para dizer para as pessoas não desanimarem e acreditarem na DEMOCRACIA.

Quero agradecer a minha bancada. Meu reconhecimento, também, aos nossos filiados e militantes, aguardando com ansiedade a chegada deste momento que é histórico para o PDT.

Agradecimento que se estende aos servidores desta Casa, de todas as áreas que reafirmam comigo a marca registrada de competência e dedicação a serviço do Poder e do trabalho parlamentar.

Iniciamos, agora, um novo tempo. Ele assinala como dissemos à antevéspera de um grande e histórico pleito eleitoral, tendo, em seu entorno social, em escala regional, a situação das enchentes que têm vitimado gaúchos e gaúchas, com graves prejuízos para nossas lavouras.

Têm chamado minha atenção, especialmente nestes acontecimentos trágicos, a solidariedade e o espírito solidário dos gaúchos em torno dos irmãos em dificuldades. Dá pra ver e sentir que a cooperação está no DNA de cada gaúcho e gaúcha.  Somos cooperativos. Eis o mote da nossa gestão.

A Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul tem entre suas obrigações fiscalizar a qualidade dos serviços públicos prestados e propor mecanismos de melhoria dessa prestação, atuar como parceiro da sociedade e do Estado e estar ao lado do cidadão. Diríamos que, mais que estar ao seu lado, é preocupar-se com o cidadão no sentido de despertar-lhe o senso e a necessidade de desenvolver a prática da cooperação e, através dela colocar o Rio Grande acima das diferenças.

Segundo Leonardo Boff, em texto publicado na Folha de São Paulo em Junho de 2003, mas atualizadissimo: “... É difícil para a grande maioria da humanidade saber o que é correto e o que não é. Esse obscurantismo do horizonte ético redunda numa insegurança muito grave na vida e numa permanente tensão nas relações sociais, agravada pela lógica dominante da economia e do mercado, que se rege pela competição, e não pela cooperação, dificultando o encontro de estrelas guias e de pontos de referência comuns”.

O Parlamento tem o dever de preocupar-se com a verdadeira integração do povo gaúcho, fundamento para a paz, a justiça, o desenvolvimento. Assim, o parlamentar é um agente político e é no ambiente do Parlamento que deve ser instigada e debatida a importância da cooperação como veículo dessa integração e propulsor do crescimento compartilhado.

Estamos vivendo num mundo completamente fragmentado, onde é constante a luta de uma ideologia contra outra, uma classe contra a outra, um segmento contra o outro, o que faz aumentar cada vez mais o afastamento de indivíduos e comunidades entre si, aumentando no Estado o distanciamento, o alheamento e a competição destrutiva.

Não podemos negar a nossa tradição divisionista destacada até pelo saudoso cantor Teixeirinha quando afirmou que “Deus é gaúcho, de espora e mango,foi maragato ou foi chimango”.

Colorados de um lado, gremistas de outro. 

Não vamos conseguir trabalhar juntos, terminar com os desentendimentos das empresas, das entidades e até mesmo na política e nas cooperativas, se cada um de nós se isolar numa ideologia, num princípio, ou numa disciplina, num segmento, numa crença, num dogma, – quando não num preconceito! – desprezando o principio da cooperação que significa agir juntos, construir juntos, sentir juntos, ter algo em comum, livremente, aparando as arestas, os recursos vários, e não se isolando por causa das diferenças!

Em geral as pessoas, quando não se sentem inclinadas a cooperar espontaneamente, são forçadas a fazê-lo através da persuasão - ameaça, intimidação, castigo, ou mesmo recompensa. Muitas vezes, somos persuadidos a cooperar em favor de alguma ideologia, de um projeto, de uma utopia. Isso, verdadeiramente, não é cooperação. Cooperação deve ser uma série de ações como resultado de uma profunda consciência de união, de fraternidade, de parceria, na convicção de “estar juntos e atuando juntos para o bem de todos”. Aquele que coopera vive melhor e, consequentemente, a sociedade e o estado melhoram.

Despertar em cada indivíduo, em cada instituição, o sentido da cooperação também é papel da Assembléia Legislativa, que deve trabalhar com os meios de comunicação, realizando políticas exitosas, mostrando exemplos bem-sucedidos, independentemente de ideologias.

A cooperação passa pelo desenvolvimento de algumas ações. Por isso vamos trabalhar. Por isso vamos propor algumas diretrizes como: Aproximação e fortalecimento das Comissões Temáticas e o Fórum Democrático; Aprofundamento das relações com os demais Poderes; Participação da Assembléia, através das Comissões Temáticas, das principais feiras e Eventos no Estado; Ênfase na realização de premiações que tem como objetivo valorizar o Rio Grande; viabilizar a transmissão da TV Assembleia e Rádio em canal aberto com uma programação digna de enaltecer este parlamento; criação de pelo menos um Curso a Distância Aberto ao Público pela Escola do legislativo; na área da saúde, vamos disponibilizar aos nossos funcionários atendimento no campo da saúde alternativa, prática que já existe nos Tribunais de Justiça Federal e Estadual.

Disseminar a importância da cooperação.

Ao fiscalizar a prestação de serviço pelo Estado, a Assembléia Legislativa se coloca ao lado da sociedade, e vai além ao cumprir a necessidade de apontar novos rumos e novas maneiras de exercer o controle social do Estado e os meios de alcançar o desenvolvimento justo, harmonioso, compartilhado.

Diante da fragmentação dos indivíduos e da sociedade, é evidente a responsabilidade de todos com a cooperação, criando e desenvolvendo atividades que promovam a melhoria das relações e das condições da sociedade. Essa responsabilidade aumenta para pessoas, empresas, entidades e instituições que desfrutam de condições mais favoráveis, seja quanto à capacidade de compreender o processo e sua urgência, seja quanto à capacidade de imaginar, propor e desenvolver os meios de ação rumo à consecução dos objetivos cooperados.

Volto a afirmar, a situação atual é de divisão, de individualismo e até de egoísmo, às vezes inconsciente. Verifica-se no Estado o domínio de organizações que objetivam apenas os seus respectivos interesses, ignorando que a vida se concretiza de modo sistêmico, que o sucesso de um repercute no sucesso de outros, que o fracasso de um traz efeitos ao fracasso de outros. Portanto, mais necessária se torna a ação cooperativa entre as pessoas e as instituições. As organizações e entidades que se dedicam a questões específicas jamais serão suficientes. Ao fragmentarem as suas forças, tornam-se parte do problema que elas mesmas procuram desenvolver. Isso vale também para os indivíduos quando se dividem e assim se enfraquecem, sendo que apenas estando unidos podem gerar o poder suficiente para obter resultados positivos.

O principal objetivo do Programa “Cooperação: o Rio Grande acima das diferenças” é despertar em cada cidadão o conceito, a importância e a necessidade da cooperação, e a divulgação de exemplos e política exitosas nesse campo. E isso será possível com a criação de uma campanha, a realização de debates internos em cada Comissão da Assembleia Legislativa, a realização de reuniões para apresentação de “cases” e a formulação de métodos de difusão e aplicação do sucesso.

Precisamos praticar a cooperação, buscar integração e harmonia, respeitada a independência jurisdicional, entre os agentes responsáveis pela gestão do Estado, no Legislativo, no Executivo e no Judiciário, assim como junto a outras instâncias de defesa do Estado Democrático de Direito.

Cooperação com esta instituição permanente e proeminente que se tornou, pela Lei Fundamental, o Ministério Público - em sua missão de defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

E assim também outras instâncias, como aquela fundada há mais há 202 anos por Napoleão Bonaparte, quando constatou que desconhecia as finanças do seu Consulado, instituindo, então, a Corte de Contas, precursora de nossos Tribunais de Contas. Cooperação com o nosso Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul que neste ano completa 75 anos de atuação. Cabe assinalar a ação que vem sendo cumprida pela Defensoria Pública, como acontece no nosso Estado, com sua assistência, aquele que é considerado o mais básico dos direitos humanos - o direito à justiça.

Para o melhor resultado de Cooperação, o Rio Grande acima das diferenças, esperamos contar com a cobertura isenta, a crítica imparcial e a informação livre e independente de outra Instituição: a IMPRENSA.

E por falar em imprensa quero fazer um agradecimento a todos que cobrem este evento. É com a imprensa que vamos caminhar. Lado a lado, ombro a ombro. A imprensa, com a liberdade de investigar, argüir, questionar, informar, a apresentar fatos seja através das ondas das rádios, da imagem da televisão ou da imprensa escrita e da internet, estará cumprindo o seu papel tornando a nossa gestão ainda mais transparente.

Cooperação minha gente... Eu poderia aqui discorrer todo o meu programa de trabalho. E aí. Qual seria o resultado prático DISSO?

Penso que um gesto vale mais de mil palavras. 

(CRIANÇAS ENTRAM )

Isso é cooperação.

Irmão conectado com irmão.

Cooperar é operar, trabalhar juntos. Até na guerra existe a cooperação entre aliados para alcançar a vitória; nos negócios há cooperação entre as empresas; a ciência alcança êxitos através da cooperação das teorias; na política há cooperação entre nações – e a dramática situação do povo no Haiti, destruído pelo terremoto no dia 12, é um exemplo recente de cooperação universal.

Segundo a americana Elinor Ostrom, quando os indivíduos trabalham juntos, podem construir confiança e respeito e podem ser capazes de solucionar problemas. Elinor Ostrom, ganhou o prêmio Nobel de Economia tendo a cooperação como base do seu trabalho.

Cooperar é dar com generosidade, e também receber com gratidão. As corretas relações humanas e a cooperação mundial para o bem de toda a humanidade será a nota dominante.

É com esta disposição cooperativa que pretendemos administrar esta Casa nos próximos 12 meses.

Darci Ribeiro, antropólogo, educador e escritor afirmou, certa vez, que “só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. Peço vênia a este pedetista histórico para transcrevê-la dentro de um novo entendimento:

“SÓ HÁ DUAS OPÇÕES NESTA VIDA: SE RESIGNAR OU COOPERAR”.

MUITO OBRIGADO.

 

 

 
Gabinete do Deputado Giovani Cherini
Praca Mal. Deodoro, 101 - Sala 205 - Centro - Porto Alegre
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