A recuperação dos 32 ranchos da Escola Estadual Técnica de Agricultura (ETA) de Viamão, desativados em 1998, é defendida pelo presidente do Parlamento gaúcho, Giovani Cherini (PDT), como forma de valorização do papel que exercem no desenvolvimento e integração dos alunos. Ao visitar a instituição de ensino, que comemora o centenário em novembro de 2010, o deputado lamentou o atual estado em que se encontram as construções, que ocupam parte dos 407 hectares da área. “É triste presenciar toda a degradação dos ranchos que serviam como espaço de convivência e de estudos dos alunos internos, quando não estavam em sala de aula”, observou.
De acordo com Cherini, a falta de conservação das construções contraria o propósito da Lei 11.918/03, de sua autoria, que declara os referidos ranchos como patrimônio histórico e cultural do Estado do Rio Grande do Sul. “Construídos pelos próprios alunos ao longo de quase um século, eles muito contribuíram para agregar valores aos seus integrantes, como o espírito-cooperativo, a solidariedade e a responsabilidade”, ponderou. A importância dos espaços, conforme o deputado pedetista, também é justificada pela contribuição que tiveram no sentido de que cada estudante pudesse exercer sua cidadania e interagir com o meio, integrando-se no processo educativo e pedagógico da escola.
Durante a caminhada até o local em que se situa os escombros do Rancho Tamanco Velho, onde conviveu com colegas do ensino agrícola de 1976 a 1978, Cherini relatou aspectos históricos sobre a criação destes espaços. “O primeiro Rancho era denominado São Jerônimo e teve entre seus criadores o então aluno da escola, Leonel de Moura Brizola. Apesar do mesmo estilo arquitetônico rústico, cada um dos 32 ranchos tinha a identidade que refletia a história de cada estudante”, lembrou Cherini.
Amizade, Uirapuru, Inferninho, Fronteira, Castelo, Frankstein, Centauro, Granada, Sinuelo, Gaudério, Saudade, Estrela do Sul, Entrevero, Planalto, Sepé Tiaraju, Deko, Ventania, Chaparral, Cacimba Velha, Querência, Figueirinha, Laredo, Guarani, Tropeiro, Três de Maio, Solar dos Inocentes, Minuano, Farroupilha, Bonanza e Quero-Quero são as denominações dos demais ranchos. Todos possuíam um salão de reunião, lareira, uma pequena cozinha com fogão de chão ou fogão a lenha, camas, mesas para estudo e objetos que decoravam as paredes.
Para o chefe do Legislativo gaúcho, o término do período dos ranchos implica na perda do valor histórico, cultural e social que representaram. “Sem falar no aspecto político, considerando que muitas decisões da classe estudantil foram germinadas durante os debates travados nos momentos de convivência, de união, e na forte representação exercida pelo Centro dos Estudantes dos Cursos Agrotécnicos, o Cecat”, frisou. A democracia, conforme Cherini, era respeitada até mesmo quando a questão envolvia a escolha do ritmo musical. “O rádio era sintonizado no programa do Cascalho Time, na Continental, ou nas músicas sertanejas da Eldorado, dependendo da votação da maioria”, relembra.
Na memória de um dos protagonistas da história da ETA, mais do que os episódios tristes vivenciados, como a saudade da família, estão os aprendizados da vida em comunidade. “Temos, hoje, ex-alunos que são exemplos de cidadãos comprometidos na prática com o bem-estar público, no exercício das mais variadas funções”, afirmou Cherini, ou Comissário, como foi batizado ao ingressar no Tamanco Velho. |