Fiquei extremamente triste ao saber, através de uma reportagem, que os doentes e seus acompanhantes que vêm a Porto Alegre para fazer tratamento nos grandes hospitais estão dormindo nas ruas e passando fome, completamente desamparados pelo poder público.
Infelizmente, o meu coração partiu-se com a decisão que fui obrigado a tomar no último dia 31 de dezembro: tive que anunciar o fechamento das Casas Solidárias (Albergues), para as quais colaborei intensamente por muitos anos em Porto Alegre, Passo Fundo, Santa Maria e Ijuí. A lei federal 12.034, de 29 de setembro de 2009, publicada após o julgamento dos “albergueiros” pelo Tribunal Superior Eleitoral e que alterou legislações anteriores que regulavam o assunto, diz em seu parágrafo 11º: “nos anos eleitorais, os programas sociais de que trata o parágrafo 10º não poderão ser executados por entidade nominalmente vinculada a candidato ou por esse mantida”.
Vamos cumprir a lei, mas com o doloroso sentimento de estar descumprindo um preceito fundamental que é a solidariedade. A solidariedade é um dom Divino, e graças a isto pude ajudar tantas famílias que ficavam desamparadas.
Devo-lhes dizer, pois, neste momento, que me sinto podado nos meus ideais, limitado nas minhas funções, obrigado a distanciar-me da verdadeira sociedade solidária. Tenho a terra, e me falta o arado; tenho a pauta musical, e me falta o violino; possuo excelentes asas para voar, mas tiraram-me o céu azul!
A política deve contribuir sempre para a felicidade das pessoas. Há, hoje em dia, uma grande falta de amor. De compreensão. De solidariedade. Não nos colocamos verdadeiramente no lugar dos que sofrem, dos que têm pouco, por isso não compreendemos as suas dificuldades e as suas dores.
Procuro praticar a política integrativa que, no meu entender, consiste em: FAZER COM QUE O CIDADÃO TENHA ATENDIDO OS SEUS DIREITOS FUNDAMENTAIS.
Por mais de 18 anos, mantive as Casas Solidárias com meus próprios recursos e de inestimáveis parceiros, sempre seguindo o lema do meu pai: fazer o bem sem olhar a quem, e tendo como missão sagrada abrigar doentes e seus familiares em tratamento de saúde fora do seu domicilio, sem quaisquer preconceitos ou discriminações de raça, credo, cor, etc. Durante todos esses anos, atendemos crianças, adolescentes e adultos acometidos de doenças graves, principalmente câncer. Acolhi usuários do meu Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás, Amazonas, Minas Gerais, Bahia e países como Paraguai, Argentina e Bolívia. Porém, no dia 5 de dezembro de 2006, fui surpreendido com a cassação do meu mandato, acusado de abuso do poder econômico decorrente da existência dessas Casas Solidárias. Ali iniciava o meu calvário, que comprometeu vários anos do meu mandato. Foram mais de dois anos de tensão e amargura. Dois anos e onze meses de sofrimento, dúvidas e incertezas!
Finalmente, no dia 18 de agosto de 2009, o pleno do Tribunal Superior Eleitoral absolveu-me da acusação iniciada pelo Ministério Público Eleitoral do Rio Grande do Sul, reconhecendo que as Casas Solidárias, atendendo gratuitamente pessoas carentes e seus familiares, prestavam um importante serviço social e que os albergueiros eram do bem.
Meu desejo de fazer o bem jamais terá fim. Lutarei para mudar essa situação com todas as minhas forças para que ninguém mais precise dormir na rua e passar fome abandonado na frente de um hospital. Posso dizer com certeza: que o povo do Rio Grande tem saudade dos ALBERGUEIROS.
Deputado Federal Giovani Cherini